domingo, 23 de maio de 2010

O Amador- sugestão de leitura do Faustinho!

"Ao Mestre GIANNI RATTO e aos amadores do Brasil.
                               
O amador. A própria palavra diz:- é o homem que ama. Nesse verbo sublime tem ele definida sua elevada missão. Amar é entregar-se em holocausto ao objeto amado, é venerar, é defender, é engrandecer, é transferir para ele tudo de belo e de bom que existe dentro de nós. É dar o eterno no transitório. É perpetuar no rápido momento que passa, uma emoção ou uma idéia. É o milagre da criação dando ao mundo outros mundos, alma `as coisas, ânimo ao inanimado. São esses os milagres do amor. Assim, quem ama a palavra, vivifica a expressão; quem ama a cor, dá relevo as sombras; quem ama a forma, modela; quem ama o som, harmoniza; quem ama o ritmo, conjuga os movimentos. O amador é dadivoso de todas as horas, de todos os minutos, de todos os instantes. Sua missão é dar sempre e nunca receber. Só o amador realiza o perfeito platonismo. Ama sem jamais unir-se ao objeto amado. Morre de amor sem ter vivido o momento divino da união. Como um perfeito crente, suas preces não imploram. São oferendas d`alma, cada dia mais belas e mais exaltadoras. Plantando sementes de amor, nada colhe da seara. Seu labor é colheita para o alheio, para o que vem no seu rastro, colher na hora magnífica o fruto sazonado. Não são os que escrevem, os que propagam o amor pela leitura; não são os que pintam, os que exaltam no ser humano o deslumbramento  pela magia do colorido; não são os que compõem, os que disseminam o gosto pela harmonia; não são os que representam no ser humano a admiração pelo teatro. Muito ao contrário. Se a vida da arte dependesse daqueles que a praticam, ela morreria. A vida é instintiva. Porém sua conservação é obra do amor. Nascer é quase nada. Viver é quase tudo. Nascer é chegar. Viver é projetar-se no tempo, é caminhar para eternidade. Só quem ama a vida pode zelar por ela. Filhos da carne ou filhos da alma, se não encontram em redor de si o amor do semelhante, nesse elo que tudo une para a perfeição da vida, como poderá manter-se? Tudo, portanto, depende de amor. Desse obscuro e humilde operário da glória alheia que vive nas salas de concertos, nos salões de pintura, nos corredores das bibliotecas e nas platéias dos teatros. Em todo amador palpita, latente, um artista. Que seria das artes sem ele? Nada. Absolutamente nada. Terrível paradoxo é este, bem sei. Porém, nem por isso deixa de conter a verdade. Tudo é antes de tudo amadorismo. Tirai o crente da presença da imagem e ela deixará de ser sagrada. Tapai os ouvidos ao som, e ele deixará de existir; fechai os olhos `a tela e nada tereis diante de vós; deixa de ler, e o livro será simplesmente papel sujo; tirai a platéia e não tereis teatro. A vida da arte é um fenômeno de refração. Parte dos que a amam para os que a praticam, para incidir novamente sobre os seus fiéis amadores."

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