quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Púlpito 1: Meceni



Meceni: EU TE AMOOO!!!
dá para entender ou quer que eu desenhe???
hehehehhehhe

Cuca de Dona Mercedes

A estréia!!

Faz dias que estou ensaiando de escrever sobre a estréia. 
Foi tão intenso, tão lindo, que nem sei como começar. Sei que vou chorar!
Durante o processo, acreditamos num único sonho, levantar o espetáculo, e nos entregamos, cada um na sua profundidade aos diretores. Eu confiei demais na dupla Masetti e Meceni, Masetti que me escalou e Meceni que me destrinchou, me despiu de todas as minhas "doenças"; nome que ele dá para manias, medos, vícios e fraquezas. Dei um trabalhinho, e ainda tenho muito o que me despir.
(...)
Voltando a estréia, nós apostamos e construimos o espetáculo, mas o resultado só o público pode nos dizer. Sexta-feira 13, agosto, aniversário da minha avó: uma grande mulher que passou pela minha vida e foi responsável por quase tudo de bom na formação do meu carácter. Um dia muito especial, um teatro de novecentos lugares, imprensa, críticos e por trás disso tudo uma grande e deliciosa confiança que eu vivi cada instante que eu deveria ter vivido. Que ali, naquele momento era o meu lugar, não quis fechar os olhos para não voltar há tempos atrás onde toda essa realidade era distante, agora não, é real. Posicionada, com a coluna retíssima e pernas abertas (em homenagem ao Meceni, ele vai entender, não tem nenhuma conotação sexual, acredite!) escutei a gravação de apresentação depois do terceiro sinal, meu peito quase estourou de orgulho, a pesada cortina lentamente se abriu e um público caloroso e feliz estava nos esperando. Foi a melhor sensação da minha vida, não lembrei de insegurança, de medos, de coreografias, de nada. Vivi aquele momento e foi único e eterno. Quando chegamos na música de encerramento: -Por isso eu guardo essa paixão antiga, que meu peito abriga quase em devoção..., chorei muito, de felicidade, de realização e essas palavras tinham infinitos significados.
Uma sensação de que estou vivendo um sonho, ou melhor, que meus sonhos se tornaram realidade!
Obrigada Senhor!!!
Obrigada Masetti!!
Obrigada Meceni!!!
Obrigada grupo e equipe técnica!!

domingo, 8 de agosto de 2010

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

No Estadão!!!

Musical vai resgatar a história do Bexiga

E levar ao palco do Sérgio Cardoso a partir do dia 13 personagens marcantes do bairro

01 de agosto de 2010 | 0h 00

    Edison Veiga - O Estado de S.Paulo
Cem dias de produção. Quatrocentas horas de ensaio. Quando as cortinas do Teatro Sérgio Cardoso se abrirem, daqui a duas semanas, às 21horas do dia 13, um novo capítulo será escrito na história dos musicais paulistanos. E, de certa forma, na história do tradicional bairro do Bexiga (oficialmente, Bela Vista) - sempre presente no imaginário popular pelas cantinas e sotaque italianos, pela boemia e pela afinidade artística.
Trata-se do musical Bixiga - assim, com "i". Genuinamente brasileiro, em contraponto a outros espetáculos enlatados que ganharam nos últimos anos palcos de teatros como o Alfa e o Abril e deram a São Paulo o título de Broadway brasileira.
"Estamos chamando o nosso de "musical na contramão" e trabalhando a ideia de que há uma forma brasileira de fazer um teatro musical, apoiado na tradição mais legítima de nossa cultura", afirma Mario Masetti, diretor da peça, do teatro e idealizador do projeto.
Tradição evidente não só no formato - que relembra os velhos teatros de revista das primeiras décadas do século 20 -, como também no humor e na escolha dos personagens, que fazem alusão a figuras importantes na história do Bexiga.
"Nossa ideia era aproveitar que o teatro está localizado nesse bairro e trazer o bairro ao teatro, contando sua história em nosso palco", explica Masetti. Um raciocínio que deixaria o escritor russo Léon Tolstoi (1828-1910) orgulhoso - é dele a frase "se queres ser universal, começa a pintar a tua aldeia".
Processo e equipe. A ideia do musical surgiu em setembro do ano passado, quando foram realizadas as primeiras reuniões entre a direção do teatro e um grupo de artistas ligados às artes cênicas. "Em dezembro, começamos a escrever", conta o dramaturgo Edu Salemi, um dos três que assinam o texto da peça.
Os subsídios históricos ficaram a cargo da jornalista e pesquisadora Solange Santos, que se debruçou sobre livros, jornais e revistas a fim de identificar passagens relevantes do bairro, personagens representativos e locais emblemáticos.
"Foram cerca de dez bons livros de referência", recorda-se. "Chegamos a alguns temas-chave da história do bairro, como o futebol, o carnaval, o teatro e, é claro, a comida e a música."
Essa pesquisa alimentava Salemi e seus dois colegas de escrita, Enéas Pereira e Ana Saggese. "Exploramos a história do bairro sem fazer algo institucional, escolar", afirma Pereira. "Fizemos uma homenagem que sabe rir de si mesma."
À frente desses profissionais - e do maestro, do coreógrafo, da preparadora de voz e de quatro arranjadores -, 23 atores encarnarão os personagens.
Por trás, um trabalho intenso de 12 figurinistas, 15 cenotécnicos, 4 maquiadores, 9 iluminadores, 7 maquinistas, 5 contrarregras, 7 produtores e 4 sonoplastas. Boa parte dessa mão de obra foi formada no próprio Sérgio Cardoso, em um projeto de oficinas gratuitas iniciado no teatro em fevereiro.
Personagens. "A peça começa com a chegada dos imigrantes italianos ao bairro", conta o dramaturgo Pereira. Isso em meados do século 19, quando o baixo custo das terras da região atraía os imigrantes que não queriam ser empregados. "Os italianos que se instalaram ali abriram pequenos negócios, como uma alfaiataria, uma marcenaria...", exemplifica Ana Saggese.
Vivido pelo ator Eduardo Silva, a estátua do músico Adoniran Barbosa - instalada, de fato, na Praça Dom Orione - ganha movimentos e se torna o guia da peça. (O músico jamais viveu no Bexiga, mas muitas de suas canções têm o bairro como pano de fundo.)
Outros personagens reais também são relembrados na peça, como os fundadores da escola de samba do bairro, a Vai-Vai, o jogador de futebol Feitiço - que passou a infância na região, no início do século 20, e depois jogou no Santos, no Corinthians, no Palmeiras (então Palestra Itália) e até no uruguaio Peñarol -; Francisco Capuano (interpretado por Paulo Goulart Filho), que fundou, em 1907, a cantina Capuano - aberta até hoje, a mais antiga em funcionamento ininterrupto na capital paulista; e a aristocrata Sebastiana de Melo Freire, conhecida como Dona Yayá (interpretada por Wilma de Souza), cujo casarão, tombado, atualmente pertence à Universidade de São Paulo (USP).A convite do Estado, alguns atores visitaram, na quarta-feira, os locais no bairro relacionados à vida de seus personagens. As fotos ilustram esta página.
O NOME DO BAIRRO

BEXIGA OU BIXIGA?
Não há um consenso sobre a grafia e a origem do nome como popularmente ficou conhecido o bairro da Bela Vista. O "Estado", por padrão, utiliza a grafia Bexiga. Uma das versões conta que no século 18 o local pertencia ao proprietário rural Antônio José Leite Braga, que foi acometido por varíola, cujo nome popular é "bexiga". "Outra versão diz que no bairro havia um matadouro onde o povo comprava miúdos de boi, entre eles a bexiga", diz a dramaturga Ana Saggese.
Os primeiros registros de habitação no local datam de 1559. Ali era uma grande fazenda, do português Antônio Pinto, chamada Sítio do Capão. Décadas depois, passou a se chamar Chácara das Jabuticabeiras.
TRECHO DO MUSICAL
"O Bixiga de hoje
se modificou
Já não temos mais aquela
Situação
Espéria nem Cine Rex
Cabô as briga de
gilete
Fechou o Madame Satã...
...Alfaiate é coisa rara
E sumiu
Foi também a seda
chinesa
E o chapéu
Paletó se compra em
shopping
Calça jeans que dá ibope
Furada com a bunda
ao léu
O Bixiga de hoje se
Modificou"
Serviço
BIXIGA. TEATRO SÉRGIO CARDOSO.
RUA RUI BARBOSA, 153, BELA VISTA. DE SEXTA-FEIRA, 13/8, A DOMINGO, 31/10.
INFORMAÇÕES: 3288-0136. R$ 20 


Nós

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O Haver


Vinicius de Moraes

Cláudia Cordeiro, professora de Literatura Brasileira no Recife (PE), escreveu ao Releituras para dizer que havia uma outra versão dessa poesia. Foi feita uma pesquisa e localizada, declamada pelo autor, no disco "Vinicius de Moraes - Antologia Poética". Consta no disco que foi publicada no jornal "O Pasquim", não sendo citado o número do exemplar nem a data. Abaixo a versão, que julgo ser a primeira, para que os leitores conheçam.


O Haver

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
- Perdoai! eles não têm culpa de ter nascido...

Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo que existe.

Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer balbuciar o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.

Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.

Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir na madrugada passos que se perdem sem memória.

Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera cega em face da injustiça e do mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de sua inútil poesia e de sua força inútil.

Resta esse sentimento da infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa tola capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem de comprometer-se sem necessidade.

Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será e virá a ser
E ao mesmo tempo esse desejo de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não têm ontem nem hoje.

Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante.

E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.

Resta essa obstinação em não fugir do labirinto
Na busca desesperada de uma porta quem sabe inexistente
E essa coragem indizível diante do grande medo
E ao mesmo tempo esse terrível medo de renascer dentro da treva.

Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem história
Resta essa pobreza intrínseca, esse orgulho, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.

Resta essa fidelidade à mulher e ao seu tormento
Esse abandono sem remissão à sua voragem insaciável
Resta esse eterno morrer na cruz de seus braços
E esse eterno ressuscitar para ser recrucificado.

Resta esse diálogo cotidiano com a morte, esse fascínio
Pelo momento a vir, quando, emocionada
Ela virá me abrir a porta como uma velha amante
Sem saber que é a minha mais nova namorada.